Quando vejo o Sertanejo
triste na terrinha, lutando pra viver,
eu pergunto: Será que não existe
um calmante que abanque o padecer
dessa gente simpática e tão ordeira,
lutadora e fiel sobre maneira?
À resposta eu espero, seu doutor,
seja breve e ampare essa gente,
e o Sertão se fará independente,
mais risonho, feliz e sonhador.
Extermine os vampiros sugadores
e os abutres que vivem disfarçados,
dê apoio aos pequenos lavradores,
sustentáculos de feiras e mercados.
Corte as garras das aves predatórias,
incentive as áreas criatórias.
Eis aí o remédio, meu senhor,
faça isso que logo brevemente
o Sertão se fará independente,
mais risonho, feliz e sonhador.
Estimule o cooperativismo
nos setores carentes de recursos,
mostre a força do seu patriotismo
e onde o povo precisa, implante cursos.
Não despreze a nossa meninada
e para a velhice, que Dante abandonada,
reserve um final mais promissor.
Faça isso em prol da nossa gente
e o Sertão se fará independente,
mais risonho, feliz e sonhador.
Leve água do rio São Francisco
aos recantos mais secos do Nordeste.
Só assim se acaba o grande risco
de miséria, de seca, fome e peste.
Mate a sede da nossa região,
incentive, promova irrigação,
mas sem ser por esmola ou favor,
é direito que assiste a nossa gente,
e o Sertão se fará independente,
mais risonho, feliz e sonhador.
E para que o cambonho agricultor
não veja perder-se a produção
conquistada através do seu labor,
multiplique as estradas do Sertão.
Os produtos agrícolas excedentes
exporte-os para outros continentes,
mas não frustre o pobre lavrador
que às vezes trabalha até doente
pra tornar o Sertão independente,
mais risonho, feliz e sonhador.
“Aqui, em se plantando tudo dá” –
disse Vaz de Caminho n’uma carta.
É verdade, doutor, ou não será
o Brasil um país de terra farta?
Com seus climas salubres, temperados,
temos vales, caatingas e cerrados
esperando o arado e o trator
pra rasgar solo fértil, húmido e quente,
e o Sertão se tornar independente,
mais risonho, feliz e sonhador.
Vá buscar o cabloco campesino
no recanto esquisito da chapada,
deem um lar que não seja taperino
e uma área de terra irrigada.
Leve escola pra sua educação
e diga a ele: “Eu compro a produção.”
Lhe entregue um boi caminhador,
um arado e um saco de semente,
e o Sertão se fará independente,
mais risonho, feliz e sonhador.